terça-feira, 27 de julho de 2010

Fratellino

Vanilla entrou no quarto e imediatamente bateu os olhos na figura deitada na cama.

Ele possuía a pele enrugada e grudada na pele, e estava um pouco gordo. Seus olhos castanhos se apertavam para conseguir enxergar. Vanilla engoliu em seco. Se não soubesse quem era, jamais teria adivinhado. Ele havia mudado muito em 70 anos. 70 anos. Sentiu seu estômago se revirar ao pensar nesse número.

"Carlo?" chamou, uma parte dela rezando para que ele respondesse sinto muito, não há nenhum Carlo aqui. Porém, o velho olhou em sua direção, pegou os óculos que estavam na mesa de cabeceira, encarou-a por alguns instantes e disse:

"Sorella?" Vanilla sentiu as lágrimas em seus olhos, mas se conteve - precisava se conter. Não podia deixar seu irmão caçula vê-la chorar, ele sempre se assustava quando isso acontecia. E uma voz em sua cabeça lhe sussurrava ele não é mais seu irmãozinho, ele é um velho de 79 anos.

"Ciao." ela disse, sentando-se à beira da cama. "Come stai?"

Ele sorriu um sorriso largo, e passou a mão pelos cabelos da irmã.

"Você não é minha imaginação." Vanilla segurou a mão enrugada dele.

"Não, não sou. Eu sou real."

"O que aconteceu com você? Eu senti saudades, sorella."

"Perdonami." ela respondeu, sem perceber que já estava chorando. "Não foi escolha minha, fratello. Eu queria ter continuado com vocês, eu queria que tivesse sido tudo diferente, eu..."

Carlo colocou um dedo em seus lábios, fazendo com que ela se calasse.

"Sorella, posso fazer uma pergunta?"

"P-pode." respondeu, tentando conter um soluço.

"Eu ainda sou seu irmãozinho?"

Vanilla balançou a cabeça afirmativamente. Há quanto tempo não chorava tanto? Segurou o rosto dele e, encarando-o nos olhos - que continuavam tão brilhantes e calorosos quanto antes - disse:

"Per sempre, fratellino." Carlo sorriu e puxou-a para um abraço. Os dois ficaram naquela posição por uns dez minutos, em que Vanilla não fez nada além de chorar. Sabia que ele estava prestes a morrer, e ele também, de certa forma.

"Sorella?" ele sussurrou. "Posso te pedir um favor?" Vanilla se afastou, enxugando as lágrimas, e balançou a cabeça afirmativamente. "Você pode segurar minha mão? Ho paura."

E então, mais um vez com lágrimas descendo pelo rosto, Vanilla pegou a mão de seu fratellino. E não a sentiu como a mão de um velho prestes a morrer - a sentiu como a mão de um garotinho de dez anos que tinha medo de dormir sozinho em seu quarto por causa do escuro. Fechou os olhos e, de repente, eles não estavam mais em um quarto de hospital - estavam em um quarto de criança, com brinquedos espalhados pelo chão; e quem a olhava era um garoto bonito de cabelos negros e olhos castanhos, que segurava sua mão com força enquanto tentava dormir e ela cantava uma canção de ninar para que ele conseguisse.

O barulho de um apito longo e contínuo encheu o quarto, e Vanilla abriu os olhos. Já podia ouvir os passos apressados das enfermeiras vindo para o quarto. Sentindo seu coração apertar, voltou os olhos para Carlo, que tinha os olhos fechados e parecia estar em paz. Colocou-se de pé e curvou-se sobre ele, para lhe dar um beijo na testa, dizendo:

"Sogni d'oro, amato fratellino."








Sorella: irmã.
Fratello/Fratellino: irmão/irmãozinho, respectivamente.
Ciao: uma saudação.
Come stai?: Como está?
Perdonami: Me perdoe.
Per sempre: Para sempre.
Ho paura: Estou com medo; estou assustado.

Sogni d'oro, amato fratellino: Bons sonhos, irmãozinho amado.
(Sintam-se livres para corrigir qualquer coisa.)

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